A Dive/SC (Diretoria de Vigilância Epidemiológica) emitiu um novo boletim sobre a situação da Covid-19 em Santa Catarina no fim da tarde desta terça-feira (4). Com um aumento exponencial de casos e estimativas graves para os próximos dias, os números alertam para uma atenção redobrada com o vírus após as festas de fim de ano.
O boletim faz uma previsão de 2.883 casos e 38 mortes entre os dias 02 e 11 de janeiro em Santa Catarina. Entenda o que os dados representam para o futuro da pandemia no Estado.
Além das estimativas para os 10 dias seguintes, o boletim chama a atenção para o grande aumento de casos registrados em Santa Catarina na última semana.
A Semana Epidemiológica 52 apresentou incrementos expressivos em relação a anterior, como o número de casos no Alto Vale do Rio do Peixe, que apresentou uma elevação de 7.100%.
Quanto aos óbitos, na região da Carbonífera houve um aumento de 900%. No Alto Uruguai Catarinense e em Xanxerê o crescimento foi de 500%.
No entanto, este aumento brusco também é motivado pelo “apagão” dos dados do Ministério da Saúde, que impossibilitou o registro de informações do Estado.
A assessoria de imprensa da Dive informou que “o aumento de casos é em decorrência tanto do restabelecimento do acesso aos sistemas de informação, como também um aumento na transmissão da doença”.
O que explica o aumento exponencial de casos em SC?
Segundo a análise do professor e pesquisador da Covid-19 da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Fabrício Menegon, o aumento de casos já é observado desde a semana do Natal, e em vários Estados do país.
Ele cita dois fatores fundamentais para isso: a variante Ômicron e os feriados de Natal e Réveillon.
“A Ômicron está circulando no país, aqui em Santa Catarina, por exemplo, já tem transmissão comunitária dessa variante. Além disso, nós temos o fato de que a gente começou, de uma maneira até mais precoce do que esperado, a experimentar os efeitos das festas de final de ano”.
De acordo com o professor, “é bastante provável que a gente tenha, sim, um aumento considerável de casos de Covid-19 nas próximas semanas”.
“E também é provável que outras pessoas que já tenham vindo pra cá contaminadas de outros Estados, outras cidades, enfim, contribuam ainda mais com a distribuição de casos”.
Vacinação é o “fato positivo” em meio a estimativas “dramáticas”
Fabrício Menegon cita que, apesar do alerta da nova previsão da Dive, há fatores favoráveis nesse contexto.
“Embora a modelagem da Dive tenha relatado a possibilidade de quatro óbitos por dia até 11/01, um fato positivo é que, em que pese o número de casos haja uma projeção pra um aumento significativo, o crescimento da quantidade de óbitos segue uma linha de estabilidade”.
Com isso, o pesquisador destaca que “provavelmente a gente não vai observar um aumento brusco da quantidade de óbitos porque a vacina está protegendo muito bem”.
Ele salienta que, apesar de as estimativas do Estado “parecerem bastante dramáticas e severas, o cenário é ainda muito melhor do que a gente viu em março do ano passado, por exemplo”.
Provável aumento de internações preocupa
Com a estimativa de uma elevação desenfreada dos casos de Covid-19, além do surto da gripe, os hospitais de Santa Catarina já têm enfrentado problemas com superlotações.
“É provável que aumente bastante. Os hospitais já vem se posicionando. Aqui em Florianópolis, por exemplo, venho observando um aumento grande do fluxo de pessoas nas emergências”, destaca Fabrício.
Ele pondera que “o fato de as internações aumentarem por conta da infecção da Covid-19, isso não quer dizer necessariamente que as pessoas vão agravar os casos”. Mas o quadro requer atenção.
“Evidentemente algum tipo de resposta rápida de aumento de leitos de internação é provável que o Estado vá ter que tomar. Se esse fluxo de pessoas nas emergências demandarem internação, isso vai ter que ser recomposto rapidamente. O que não é uma tarefa fácil porque precisa de insumo, de leitos e de equipes”.
Número de mortes nas próximas semanas será o “principal indicador”
No fim, o que mais vai nos dizer sobre o futuro da pandemia em Santa Catarina será mesmo o número de óbitos nos próximos dias, como garante Fabrício Menegon.
“É o que vai dizer como o Estado vai se comportar. Se a gente perceber, por exemplo, uma diferença de aumento na quantidade de óbitos, isso vai exigir do Estado uma postura mais dramática, vamos dizer assim, mais firme em relação ao controle do espalhamento da doença”, afirmou.
Estado aumentou a testagem contra a Covid-19
O professor Fabrício Menegon chama a atenção, ainda, para o maior investimento na política de testagem de Santa Catarina.
“Quando você testa mais, em tese, você identifica mais casos ativos. E isso é muito bom, não deve ser visto de maneira equivocada, distorcida. Quando a gente conhece mais da realidade do espalhamento da doença no Estado, podemos tomar providências de maneira muito mais rápida, como a adoção de medidas que possam reduzir a circulação de pessoas. Tudo isso contribui pra baixar os casos”, complementa o pesquisador.
“Não tenho a expectativa de lockdown”
O avanço da Ômicron e o aumento de casos motivou recuos em flexibilizações na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo.
No entanto, o professor é contundente ao afirmar que “não tem a expectativa” de um novo lockdown em Santa Catarina, mesmo que os números piorem.
“Eu tenho pouca esperança de que isso vá acontecer porque o nosso histórico denuncia o contrário. Quando a gente deveria ter feito lockdown lá em março, abril do ano passado, a gente não fez. Fez ‘meia boca’, de final de semana, que não prestou para nada. Então, não acho que agora, com a vacinação avançada, o governo vá tomar essa iniciativa”, concluiu.