O caso de uma possível reinfecção por coronavírus em Urussanga, no Sul de Santa Catarina, não é o único no Estado. Em Blumenau, uma mulher de 39 anos testou positivo para covid-19 pela segunda vez depois de três meses do primerio diagnóstico. Teria descoberto a possível reinfecção ao procurar um posto de saúde do município para relatar dores nas costas e falta de fôlego ao caminhar.
A Secretaria de Saúde de Blumenau foi procurada e informou, através da assessoria, que buscava mais informações sobre o caso. Até o fechamento deste texto, no entanto, não houve retorno.
A própria paciente, que não será identificada, conta que o resultado da suposta reinfecção foi obtido através de um teste rápido feito em um posto de saúde da cidade. Na mesma data, foi orientada a iniciar um novo período de isolamento social de sete dias.
Antes disso, no entanto, procurou um hospital da cidade para realização de um raio-x dos pulmões e recebeu outro diagnóstico da médica que a atendeu: o resultado do teste poderia estar relacionado aos anticorpos desenvolvidos no primeiro contato com o vírus.
Com duas orientações diversas, a paciente cumpriu o isolamento de mais sete dias, mas seguirá sem confirmar a reincidência, assim como a mulher de 44 anos de Urussanga, que teve um diagnóstico “presumido” pelo Comitê de Combate à Covid-19 da cidade. Isso, porque, não há um protocolo definido pelo Ministério da Saúde ou pelos estados para o diagnóstico de recontaminação, tão pouco suporte para a realização dos testes de sequenciamento genético do vírus, único exame capaz de confirmar a suspeita.
Como comprovar uma reinfecção?
Médico infectologista, Sérgio Beduschi Filho explica que para realizar um exame de sequenciamento genético seria necessário comparar a amostra coletada no primeiro teste de covid-19, desde que conservada adequadamente, ao novo material colhido.
– Foi o que aconteceu em Hong Kong, que é oficialmente o primeiro caso de reinfecção no mundo. O paciente teve um quadro de doença típica, fez o (teste) PCR, melhorou e estava curado. Depois de 140 dias da infecção, fez um novo teste, com resultado positivo. Ficaram preocupados, realizaram o sequenciamento genético do vírus, que confirmou a suspeita de reinfecção – exemplifica.
Segundo o infectologista, esse exame não só depende do material colhido, como de um laboratório “de ponta”, com alta capacidade de análise:
– É difícil comprovar reinfecção com os métodos que se têm disponível. É necessário um laboratório referência em pesquisa.
Ao menos três casos do Sul do país
Ao menos três casos de reinfecção no Sul do país foram relatados até o dia 27 de agosto ao grupo de psicólogas do projeto Tudo Vai Ficar Bem Brasil, que atende pacientes com coronavírus, familiares de infectados e profissionais da linha de frente no enfrentamento em todo o país.
De acordo com uma das coordenadoras do projeto, Graziele Zwelewiski, um dos relatos ocorreu em Santa Catarina e outro no Paraná. Em um dos casos, duas pessoas da mesma família teriam sido reinfectadas. Outros detalhes sobre os casos não foram divulgados pela psicóloga para resguardar o sigilo dos atendimentos.
Segundo o infectologista, Sérgio Beduschi Filho, embora sem perspectiva de comprovação, a possibilidade de reinfecções em SC existe, mas não deve ser encarada com pânico, porque os casos não são relatados com frequência:
– Em relação aos pacientes contaminados, que ficam doentes novamente, é complicado afirmar que há de novo a presença desse material. Temos milhões de casos (de coronavírus) no mundo e pouquíssimos suspeitas de reinfecção. Muito provavelmente (a reinfecção) é rara, incomum e quando ocorre, muito provavelmente, é muito mais leve – tranquiliza o especialista.
Questionada, a Secretaria de Estado de Saúde de SC (SES) informou que, em hipótese de reinfecção, os casos serão avaliados individualmente e de forma detalhada. Disse também que embora “alguns poucos casos já foram descritos na literatura em todo o mundo, até o momento não há informações definitivas sobre a possibilidade de reinfecção”.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as reinfecções são “muito raras”, mas já foram comprovadas em lugares como Hong Kong, Holanda e Bélgica.
Veja a evolução do coronavírus em SC
Quais são os testes disponíveis
Há dois testes possíveis para identificar a contaminação pelo vírus que, em poucos meses, deixou milhões de pessoas mortas em todo o mundo. Segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de SC (Dive-SC) há os testes de anticorpos e os virais:
Virais: detectam o material genético do vírus. Na grande maioria das vezes as pessoas que apresentam sintomas estão eliminando vírus através das secreções respiratórios e, por este motivo, o teste de PCR – amostras são coletadas através de uma espécie de cotonete no nariz – é realizado para diagnóstico da infecção em atividade, mesmo quando paciente é assintomático.
Segundo a SES, não se recomenda repetir o exame PCR durante um período de 90 dias após o início dos sintomas, já que o paciente diagnosticada com a infecção através de teste PCR pode continuar eliminando partículas virais por um longo tempo e, consequentemente, acusar positivo se refeito o exame. Ainda, segundo a SES, mesmo que siga com sintomas, “isso não significa que a pessoa ainda esteja em fase de transmissão”.
Anticorpos: detectam anticorpos que foram produzidos pelo sistema imunológico de uma pessoa que teve contato com o vírus. A produção destes anticorpos inicia, em média, após 10 dias do primeiro contato da pessoa com o vírus e podem ser identificados por semanas a meses através de testes rápidos e outros de sorologia. A presença de anticorpos não significa, necessariamente, imunidade contra novas infecções.
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