“Falar sobre ele é o que me machuca mais. Onde ele passava só trazia alegria. Agora as orações me confortaram um pouco”. É assim que Ismael Duarte, 30 anos, lembra do filho Brayan Gabriel Duarte dos Santos, morto aos dois anos após ser picado por um animal peçonhento enquanto dormia.
Poucas horas depois de sepultar o filho, Ismael lembrou dos momentos que passou junto ao filho desde a hora em que viu a picada no pescoço do pequeno até a triste despedida.
“Agora eu só quero ver como vai ser daqui para frente. Ele era uma pessoa muito querida, amada por todos onde passava, a gente estava sempre junto, brincando, todo dia eu buscava ele, levava na escola… Está muito difícil”, lamenta, com a voz embargada.
O acidente
Ismael conta que o menino estava bem na noite de sexta-feira (10). Depois de buscar ele no CEI Primeiros Passos, creche municipal que Brayan frequentava, eles foram ao circo e o pequeno voltou para casa da mãe “a mil”.
O pai viu a picada no pescoço do filho quando foi buscar o menino no outro dia, por volta das 8h da manhã de sábado (11). A suspeita da família é de que o fato tenha ocorrido pouco antes disso, entre 6h e 7h da manhã. A mãe, Marisete dos Santos, a princípio achou que Brayan estivesse com algum machucado, então eles decidiram, primeiro, buscar ajuda na farmácia, que era mais próxima.
No local, o farmacêutico, que segundo Ismael é muito competente e ajuda a toda a comunidade, orientou que a família procurasse o hospital de Salete. Lá, os médicos avaliaram, medicaram Brayan e sugeriram que ele ficasse internado. Por conta da distância e pelo fato de que o pai e mãe não moram na mesma casa, o pai preferiu levar o menino novamente e se comprometeu a levá-lo de volta, caso a situação piorasse.
Em casa, o pai disse que colocou o menino para descansar, mas entre 11h e 13h30 percebeu que ele continuava piorando e retornou ao hospital. “Ele já estava com febre alta. Os médicos olharam e já mandaram para Rio do Sul, que é a nossa referência aqui. Quando chegou lá fizeram todos os exames e foram medicando, mas o veneno já estava espalhando”, relembra.
O quadro de Brayan passou a piorar a cada hora, segundo o pai: o pequeno começou a ter sangramentos e recebeu sangue, a picada seguia inchando e os médicos relatavam que o veneno era, de fato, muito forte. Ismael conta que os médicos fizeram mais exames e perceberam que o veneno já havia atingido alguns órgãos, como o coração. Às 3h da madrugada de domingo (12) Brayan foi internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Ismael lembra que visitou o filho pela manhã e, apesar de medicado, percebeu o filho “normal”, sem uma evolução tão grave do quadro. Mas o pequeno não resistiu e morreu por volta das 17h. “O veneno já estava muito espalhado, no coração e ele não aguentou”, fala Ismael, explicando que Brayan teve uma parada cardíaca.
Exames vão indicar animal, mas pai tem suspeita
O corpo de Brayan foi levado para o IML (Instituto Médico Legal) de Lages. Conforme informações do IGP (Instituto Geral de Perícias), não foi possível precisar qual animal picou o menino apenas com os exames no local. Por isso, foi colhido material biológico do corpo que será analisado em laboratório.
O Estado também acionou o CIATox/SC (Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Santa Catarina) para auxiliar nos exames. Mas, segundo Ismael, o prazo que foi repassado para o resultado é de quatro a cinco meses – um tempo longo e que vai custar a passar para sanar as dúvidas da família que enterrou o filho na manhã desta terça-feira (14).
Com a questão na cabeça, Ismael ficou repensando os acontecimentos durante o velório do filho e decidiu pesquisar: dor forte, inchaço, febre, pescoço paralisado. Ele conta que a desconfiança passou por aranha e escorpião, mas não encontraram nenhum vestígio.
Porém, enquanto pesquisava, Ismael lembrou que havia encontrado um pequeno pedaço de algo que não soube identificar no travesseiro do filho, que primeiro ignorou, mas depois achou que poderia ser um indício. Juntando as peças, o pai desconfia que o filho pode ter sido atacado por uma lacraia.
Conforme informações da Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, a lacraia, também conhecida como “centopeia”, é um caçador noturno de movimentos rápidos, tem o corpo adaptado para penetrar em frestas, onde se escondem durante o dia, e possui dois ferrões que atuam em forma de pinça para injetar veneno em suas presas.